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A MARCHA
de uma FAMÍLIA.

A trajetória pessoal e profissional dos sena bonfim

12 de agosto de 2016. Esse pode ter sido um dos dias mais emocionantes que a família Sena Bonfim vivenciou. A vitória ficou por segundos de acontecer. Mas o “quase” teve uma representação inesquecível para Caio, principal marchador brasileiro da atualidade, Gianetti, sua mãe, treinadora e uma das principais atletas femininas da história da marcha atlética brasileira e João, seu pai e treinador. Não só para a família, mas também para o Brasil, que jamais havia visto um desempenho tão excelente na marcha atlética. Às 14h, em mais um dia ensolarado no Rio de Janeiro,  74 dos mais renomados atletas estavam enfileirados para iniciar a prova dos 20 km. A cidade estava em festa recebendo o maior esportivo do mundo, os Jogos Olímpicos. O Brasil fez a sua melhor competição na história e totalizaria, ao final, 19 medalhas - sendo sete de ouro, seis de prata e seis de bronze. O melhor desempenho anteriormente havia sido em 2012, em Londres, em que os brasileiros chegaram a 17 pódios. Porém, nesta modalidade, que não possui muita visibilidade em nosso país, nunca nenhum atleta havia chegado a glória de ser premiado. Às vésperas das Olimpíadas de Tóquio, neste ano de 2021, a família sente orgulho de como tudo começou.

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Em 2016, no circuito, o caminho não parecia trilhar a favor dos brasileiros. Logo de início, o marchador catarinense José Alessandro Bagio, à época com 35 anos, abandonou a prova com problemas na coxa. Os holofotes voltaram-se para os outros dois que seguiram na disputa. Mauro Zimmermann, à época 33 anos, que acabou tendo insucesso. Esteve entre os últimos marchadores que completaram o circuito, ficando em 63º. O outro era, justamente, Caio Bonfim, à época com 25 anos de idade. O rapaz, natural de Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal, era o mais novo entre a delegação masculina brasileira na categoria. A mãe e treinadora técnica, Gianetti Bonfim, comentou que um ônibus foi fretado pelos moradores da cidade apenas para assisti-lo. “Era a Olimpíada em nossa casa. Sobradinho parou para vê-lo competir, então era uma grande responsabilidade que tínhamos e ele estava treinando muito bem. A cidade estava em festa’’, afirmou.

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A MARCHA
de uma FAMÍLIA.

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objetivo ao pé do ouvido

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Objetivo ao pé do ouvido

Mas essa não era a primeira Olimpíada de Caio. A classificação para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, inclusive, foi uma grande batalha. Mesmo ao conquistar a medalha de ouro e o recorde brasileiro (aqui, começamos a perceber que este parece ser um dom natural do marchador) no Campeonato Sul-americano de Marcha Atlética no ano anterior, em Buenos Aires, Argentina, ficou a cinco segundo (guarde este tempo) do índice necessário para garantir sua vaga. Em sua última chance, no Troféu Brasil de Atletismo, ele conseguiu. Caio afirma que não foi um índice próprio e sim, da família.

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‘’Foi uma classificação surreal. Minha mãe não disputou nenhuma Olimpíada. Ela fez o índice para a competição de Atlanta, em 1996. Ela conseguiu, porém, no mês anterior, o Brasil havia mudado o critério. Aquele tipo de coisa de uma época meio sem informação, né? Então não era uma frustração, era o maior sonho dela. Cresci ouvindo as pessoas me perguntarem se ela havia disputado, porque para o público geral, apenas essa competição importa. Foi uma saga ir para Londres. Fui para tantos países tentar o índice e acabei batendo na trave em todas as competições’’

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Porém, àquela altura, com apenas 21 anos, acabou não ficando muito bem colocado em sua primeira grande oportunidade no maior palco esportivo. Terminou como o 39º entre os 48 atletas presentes, com um tempo de 1h24min45s. Gianetti enfatizou que Caio ainda era ‘’muito verdinho, novinho’’, sendo a vontade deles, naquele momento, apenas de que o jovem tivesse uma experiência olímpica. Segundo ela, apesar de tudo, ainda sim foi dominada pela agonia e o estresse e para Caio, foi uma forma de obter confiança, já que naquele momento, comenta que passava por sua cabeça: ‘’Vamos, agora é apenas o começo’’. 

 

Mas no Rio de Janeiro era uma competição em casa. Era a chance de Caio brilhar à frente de milhares de brasileiros que o apoiaram até o último segundo. E a volta final marcaria a vida dos três. A poucos segundos de uma glória ainda maior, mas que ainda sim representaria um marco nacional - e mais um recorde - e um momento único para ele e sua família. Gianetti, ao redor da pista, precisou de ajuda para segurar-se.

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''Vou dizer uma coisa: nunca fiquei tão agoniada em minha vida. Minhas pernas tremiam. Minha vista escureceu. Pense, naquele último momento, na última volta, o Caio com iminência de ganhar uma medalha. Eu passei muito mal, juro para você. Estava com duas amigas ao lado e elas tiveram que me segurar, não sustentava as minhas pernas do tanto que elas tremiam. Você já ficou com o coração para sair da boca? Foi assim comigo. São experiências que levaremos para o resto da vida. Por mais que descreva, só quem passa sabe. Querendo ou não, é meu filho, né?''

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E Caio triunfou. Lembra-se do tempo que seu pai havia lhe falado antes da prova? Ele alcançou, completando a prova em 1h19min47s. Marchou dando tudo de si. Impôs respeito para os demais atletas que, anteriormente, não enxergavam os brasileiros com bons olhos na categoria. Deu seu sangue e esteve no pelotão da frente durante todo o percurso. A frente de Caio, apenas os melhores atletas mundiais. E foi assim que, pela primeira vez na marcha atlética brasileira, um atleta marchava para menos de 1h20min. O cenário estava perfeito para a tão esperada chegada ao pódio, mas como disse Gianetti: “Foi coisa que Deus não quis’’.

   

O pódio ficou a uma posição de distância, mais precisamente, apenas cinco segundos que separaram o brasiliense da medalha de bronze, ficando atrás dos chineses Zhen Wang - medalhista de ouro - e Zelin Cai - medalhista de prata -, e do australiano Dane Bird-Smith, que acabou tirando o sonho do brasiliense. Porém, Caio não se deixou desanimar e seguiu firme na competição, afinal,  no dia 19 de agosto, também disputou a prova dos 50km. Nesta, o desempenho não teve a mesma proporção, mas ainda sim foi um grande marco para nosso país. Terminou em 9º lugar e, novamente, quebrou o recorde brasileiro, ao completar o circuito em 3h47m2s. 

 

Foram segundos que distanciaram Caio Bonfim, Gianetti Bonfim e João Sena de um feito que batalharam tanto ao longo de toda a carreira do jovem e também de sua mãe. Foi uma árdua jornada até o momento emocionante e único no Rio de Janeiro. Não foi algo que caiu do céu e muito menos que terminou por aqui…

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